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Traje social ou passeio completo

Deve ser a idade que chegou de vez ou porque a verba anda curta já que a inquietação noturna amenizou. Me lembro quando era mais novo e cada vez que chegava o final de semana era obrigatória a saída para a pesca predatória. No verão era bom por isso, ainda mais morando na praia. Bastava sair até o centrinho de Ingleses, lugar de gente bonita e elegante, conhecido popularmente como “pracinha”. Nego que se referia àquela parte como centrinho já sinalizava que não era local, se bem que nunca vi nenhum forasteiro apanhar por ser haole, no dialeto dos nativos. A não ser que falasse mal da sagrada instituição da farra-do-boi ou rabeasse, no bom sentido, um surfista da área.

Então, como ia contando bastava dar um rolezinho e sempre se encontrava conhecidos dispostos a novas aventuras noturnas no norte da Ilha. Do nada, sem esperança de algo interessante para fazer em um domingo de janeiro (ou fevereiro?) surgiu uma formatura fora da estação, devia ser para a raça que passou em segunda época.

A gente, eu e um outro cara mais duas amigas nossas, não era convidado de nenhum formando. Elas é que iam arranjar os convites para a formatura de pirralhos do terceirão. Fazia bastante tempo que eu mesmo tinha passado dessa fase. Supostamente elas conseguiriam com facilidade, sabe como é: mulher consegue tudo.

Elas estavam todas emperiquitadas e esse cara que tava comigo foi na estica, terno e gravata. Eu, não. Ainda não tinha descoberto o poder dessa vestimenta e me abstinha de usar roupas formais, era adepto de uma linha exclusivamente street wear. Fui com uma camisa social azul de manga longa, o máximo de concessão que me permitia e uma calça de veludo azul marinho hugo boss que tinha custado setenta contos, uma fortuna para a época.

Não éramos os únicos sem convite. Formatura ainda é a melhor opção de balada em Florianópolis com baixo orçamento. Quem tá pagando são os pais dos trouxas que estão se graduando. Foi nesse momento que tive o insight: comércio ilegal de convites de formatura. Em pouco tempo dispunha de contatos com os seguranças, policiais em horário de folga. Essa atividade me rendeu muita grana mas perdi tudo em jogos de ludo a dinheiro.

Não que fossem feias, mas as minas pareciam que não tinham todo esse poder de sedução, tiveram que implorar um bocado até descolar 4 convites. A mais porra-louca delas quando foi se aproximar de dois carinhas, tropeçou num meio fio e quase cai se não tivesse se pendurado pelos braços no pescoço de cada um deles. Eles riram, ela riu mais ainda e a gente por perto fingindo que não conhecia a desastrada.

Enfim com os bilhetes que nos admitiriam no salão do clube, esperamos na fila a galerinha ser revistada na nossa frente. Quase na entrada, os seguranças começam uma operação pente fino para identificar quem não estava usando calça social. Mais rigidez com quem não estive usando uma do que com o sujeito que portasse um três oitão ou bagulho. Na minha vez me advertiram “Tu, não, gurizão!!!”. Os três entraram e da janela me jogaram a gravata. Como não pensei nisso antes! A gravata ia despistar os parrudos que zelavam pelo dress code do baile com toda a certeza.

O plano fracassou e não sei de onde veio a idéia, dessa vez brilhante de esperar um pouco enquanto o meu coleguinha ia até o banheiro e pela janelinha ia tentar me jogar a sua própria calça. Não esperei 2 minutos, as nossas amigas na expectativa e a calça veio descendo suavemente. Mais ágil que o Taffarel catei a peça no ar e fui para um canto escuro e coloquei por cima da minha calça, aquela de 70 reau. Ela ficou meio larga e tive que apertar bem o cinto.

Consegui entrar finalmente e corri para o banheiro. O sujeito, lembrem-se, estava só de cuecas em um cubículo daqueles. Depois ele me contou que aproveitou o ensejo de estar sentando no trono e deu um barro tranqüilamente. Passei a calça por cima da separação e pronto estávamos para dançar até a valsa dos formandos.

As minas ficaram a par da nossa aventura, mas como essa operação toda levou uns bons minutos, outros caras tinham aparecido e melado nossos planos de dominação. C´est la vie! O resto da noite não me recordo muito bem, lembro que rolou uma pancadaria, mas a polícia fashion não precisava ficar alarmada, eles usavam calças sociais.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 5:24:00 PM  

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