Rádio

Filmagens - Dia 6 & 7

Faltou dizer que o dia 6 não foi o último como era previsto. O tempo não ajudou, eram muitas externas. Essa foi a pior semana de julho dos últimos tempos. Choveu e os planos chuva, não tinham como ser postos em prática. Faltavam cenas ao ar livre e eu não ia assumir a chuva, não tinha como.

O produtor pegou atestado. A diretora de arte compareceu. E parte da equipe, entre os quais me incluía já que sou adepto da liderança pelo exemplo, dormimos na casa que servia como base.

O fato engraçado do dia foi o fato de termos de apelar pra 4 crianças de 4 anos diferentes para fazer o papel do filho da Ivone, que precisa apenas atravessar a rua com a mãe ficcional. Na escolha de elenco a produtora tinha apresentado 2 opções. Me disse que uma era mais experiente. Esse mais experiente refugou como o Baloubet em frente do obstáculo. Trouxeram não sei como e rapidamente a segunda colocada. Também não deu.

Uma terceira foi convocada ali mesmo. Mais uma chorona.

Tem um ditado no meio cinematográfico que diz: criança, animal e o Pereio não se chama pra filmar.

Mal acreditei quando vi uma mãe alcançar um gurizinho pela janela para a produtora de elenco, promovida a coordenadora de produção pela falta do titular. Pensei, se os atores mirins profis não resolveram... Mas qual não foi a minha surpresa ao vê-lo desempenhando a contento seu pequeno porém significativo papel.

No 7° dia Deus descansou, nós não. Tinhamos que recuperar o tempo perdido. Voltamos a cena da parada e a cena final do filme. Não deixamos nada para trás. Foi particularmente interessante fazer a cena do desfile sem a ajuda da polícia. Sim, porque eu não era louco de pedir pros estagiários fecharam por conta própria as ruas. A polícia esteve sempre por perto quando precisamos fazer cenas na rua em que bloqueios eram impostos ao trânsito de veículos. Tudo com autorização do comando, mas a solicitação era para menos dias.

Por isso peço desculpas ao povo do Ribeirão, menos ao cretino que ao passar de carro por nós disse: "Fechar a rua pra isso? Que babaquice!"

A última coisa que gravamos com equipe bem reduzida foi as cenas do velho no banheiro se barbeando. A locação era o banheiro da casa da diretora de arte. No fim, quando disse o último "valeu" a raça se cumprimentou. A argentina veio me estendendo a mão e como sou uma pessoa afável já puxei sua mão e a abracei, com todo o respeito.

E assim posso dizer que nossa aventura acabou aqui. Literalmente entre mortos e feridos salvaram-se todos. Até o nosso querido colega enfermo tinha melhorado e veio participar da solenidade de encerramento das gravações.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 9:37:00 PM 0 comentários  

Filmagens - Dia 5

Se vocês estão acompanhando fielmente o diário de produção, sabem que tá tudo correndo dentro da mais absoluta normalidade. O cronograma tá sendo cumprido. Sem brigas ou atritos bobos. No máximo o que tive que fazer foi chamar a atenção do pessoal da pesada pra não pegar no pé do nosso figurinista e suas insinuações de que ele seria um jovem antílope. A câmera operada pelo Ferrinho às vezes funciona. Tirando isso, maravilha!!!

Até esse dia.

Sei lá porque resolvi passar o sabão no diretor de produção por aceitar que o almoço fosse entregue um pouco mais tarde. Ele ficou meio mal com aquilo mas sobreviveu.

Enquanto fazíamos a cenas que o Almeida e o Carteiro conversavam na frente da casa do seu Alcides sobre as excentricidades do velho, a diretora de arte, uma argentina (tá explicado!) teria seu verdadeiro desafio como diretora de arte, cuidando do cenário do boteco do Almeida. A locação seria um bar de verdade, no Ribeirão, de um francês casado com uma carioca. A gente tinha combinado fazer num dia que ele não iria abrir, já que não IA pagar nada por isso.

Fomos almoçar e o infeliz do meu produtor, que mal estava se alimentando esses dias todos, fica pálido e desaba. Imagina agora uma cara com mais de 1,90 caindo no meio do povo almoçando. Todo mundo corre pra ver o que se passa. Ele está tão mal que não consegue falar direito. Alguém sugere que o levassem para o posto de saúde que ficava perto da igreja e da praça da cena do desfile. Ele vai pra lá, termino meu almoço e um a menos na equipe.

Me sinto mal com aquilo, será que foi minha culpa o colapso dele? Ná, todos me tranquilizam e me dizem que ele não estava se alimentando direito. Na real ele já se queixava de um início de gastrite na época da pré. Pena que o plano de saúde da minha produtora não cobria isso ou qualquer dor de cabeça que fosse.

Bom, o show tem que continuar e a escritora, minha ex - estão lembrados? - volta a visitar o set e traz sua irmã e um jovem antílope, quer dizer um jovem aspirante a cineasta. Posso dizer que o timing dela é perfeito. Chegou num dia de crise. Por isso nem ficou muito tempo.

A diretora de arte e sua equipe tinham comido antes e foram pro bar preparar tudo. Tinham que tirar várias garrafas dos armários, embalar cuidadosamente os objetos que não seriam utilizados. O bar caiu como uma luva pro espírito do filme. Era perfeito e mal podia acreditar que não iria custar um centavo.

Enquanto isso, continuávamos de onde tínhamos parado com o Almeida e o Carteiro quando me chega o produtor de set ou platô em bom português e me diz que o francês quer conversar sobre o u$o de seu bar.

Na verdade o explorador que disse que não ia cobrar nada desde que fosse num dia que ele não abrisse, queria liberar o boteco até as 5 por 150 reaus. E que por 400 pratas a gente podia ficar até as 7 que era a hora que ele ia abrir. Como assim cobrar, como assim abrir? A gente, quer dizer, o falecido produtor tinha combinado com ele e a mulher uma coisa e quando chegou a hora H, foi outra. Na verdade ele, o produtor, não ia fazer tanta falta assim. Agora entendo as apreensões dele, quem não faz o trabalho direito... Mais uma lição: um contrato verbal não vale o papel em que está escrito.

Nem fui falar com o gringo porque ia avançar nele, só de ouvir aquele frantuguês dele. Disse pro platô que a gente ia arranjar outro lugar e que pedisse que as minas da cenografia parassem o que estavam fazendo, colocassem tudo de volta e retornassem.

Quando dizem que pouca merda é bobagem? Pois então!

Depois de um tempo, a argentina volta e me diz que está indo embora. Que eu tinha abusada dela, como se fosse de propósito o mal entendido internacional. Oh, não! Mais uma tendo ataque agora. E com ela ia grande parte do figurino, além do figurinista, da continuísta e possivelmente a assistente de arte, em solidariedade. Que lindo isso! Eu tinha certeza que qualquer uma que trabalhasse no curta, da maquiadora passando pela assistente de direção, ia dar pra mim. Diretor "fodão", diriam meus detratores!

Mas o meu charme natural dessa vez não ia me tirar dessa. O clima ficou tão pesado que parecia que um ponto de interrogação pesando uma tonelada tinha despencado sobre o set.

No quartinho da maquiagem/figurino vi que elas não estavam blefando. Estavam arrumando tudo para se mandar. Como eu não sei, porque com as minhas kombis não ia ser...

A produtora de elenco, acostumada a resolver problemas entre as partes mais sensíveis da produção, atores e atrizes manhosos, tentou apaziguar. No melhor estilo Celso Russomano, tentou buscar uma reconciliação que fosse boa para ambas as partes. Parecia lavação de roupa do BBB. Nessas horas eu senti falta do making of.

Por mim essa gringa que fosse pro inferno, não tava nem aí mas então pensei nos patrocinadores e em todos os petrodólares que foram investidos no projeto. Hm, tá bom essa parte não é bem assim. O único que tava bancando o filme, estava fazendo meio que por obrigação, pra não ficar chato pra sua cara perante a classe artística.

Resumindo, meia hora de argumentações dentro do quartinho enquanto os outros estavam tentando ouvir pelo buraco da fechadura: continuamos juntos nessa. Na mesma hora descolamos o bar bem próximo do QG e da casa cenográfica do Veterano. Não era exatamente o ambiente rústico porém perfeito do bar do francês mas quebraria o galho. Enquanto a a argentina arrumava tudo, me recuperava gritando com o oceano. Só as ostras (e a Sayuri, a japa da make-up) sabem as barbaridades que eu disse.

Não sei porque mas depois desse episódio a diretora de arte começou a me pedir opinião sobre a cenografia e essas coisas todas que ela era responsável. Isso sempre me intrigou, parece que tenho que bater com o pau na mesa para mostrar como as coisas funcionam por aqui.

E foi assim que o dia terminou. Um dos mais engraçados em termos de erros de gravação. O Renato Turnes (Carteiro) acabou tendo que beber cerveja de verdade e dava pra ver a danada fazendo efeito e dobrando a língua dele.

Sabe esses sonhos que não conseguimos fazer o que a gente quer mesmo sabendo que é sonho e se pode fazer qualquer coisa? A mesma coisa, eu tava num boteco e nem me toquei de beber.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 10:30:00 PM 0 comentários  

Filmagens - Dia 4

Mais um dia tranqüilo, o tempo não tava dos mais colaboradores mas podia ser pior. Conseguimos fazer os exteriores programados.

Como todo diretor estrela, hoje me dei ao luxo de exigir que parássemos tudo para esperar a chegada de uma lente grande angular. O Sapo foi até o Campeche e trouxe a lente em 20 minutos. Ah! Ela era realmente necessária praquele plano superior da sala do veterano quando toca o cuco e fica no corte final.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 8:50:00 PM 0 comentários  

Filmagens - Dia 3

Hoje só fizemos internas na casa do seu Alcides com o seu Milton mais conhecido como o Veterano. Ele alegou falta de condições de trabalho e se queixou de dor na garganta de tantas falas que ele tinha. Na verdade isso era ironia, uma vez que seu personagem não abre a boca o filme inteiro.

Como diria Dave Mustaine: So far, so good.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 10:42:00 PM 0 comentários  

Filmagens - Dia 2

Hoje foi tranqüilo... Sabe quem apareceu no set?A minha ex, a própria, a autora do conto que me baseei pra fazer o roteiro. Fazia tempo que a gente não se falava. A gente tinha se separada meio esquisito. Ia e voltava. Normal vocês diriam, mas nada na minha vida é normal. Deixa pra lá.

Ela tinha dito que ia de tarde lá. E foi. E só falei com ela no fim da diária. Quase não a reconheci junto com umas pessoas da equipe que estavam sem ter o que fazer (eu me matando e vocês no bem bom). E banquei o bobo.

Tentei derrubá-la pra mostrar quem que manda. Brincadeira, isso foi meu jeito carinhoso de quebrar o gelo quando ficamos frente a frente. A gente se falou. Sempre com alguém por perto e uma mina que trampava na arte e quebrava o galho com o elenco percebeu um certo clima de reencontro de exes, eu não percebi nada. Depois ela foi embora e deu carona pro veterano do filme.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 8:27:00 PM 0 comentários  

Filmagens - Dia 1

Nem acreditei quando as seis da manhã o Hamilton (Sapo), o motorista da Kombi que faria o transporte dos integrantes da equipe que moravam no norte e leste da ilha, apareceu na frente de casa. Estava escuro demais ainda. E frio, põe frio nisso. Eu seria sempre o primeiro a ser apanhado e o último a ser deixado em casa pelos próximos dias.

Era assim a logística do filme, quem morava no centro e continente ia na outra Kombi. Em 2 horas chegamos no QG, a casa de uma tiazinha velha do Ribeirão. Todo dia será essa rotina. 2 horas pra ir e 2 pra voltar.

A manhã é sopa. Planos básico só para aquecer a equipe já que a tarde estava reservada para:

A grandiosa seqüência do desfile de Independência

Como não gosto de moleza, de quebra no primeiro dia já faço a grande cena do desfile de 7 de setembro: 11 câmeras, gruas em movimentos milimetricamente elaborados, centenas de figurantes, o aguardado retorno de um monstro sagrado da interpretação ou pelo menos é o que devem dizer seus parentes e as presenças confirmadas dos verdadeiros veteranos da 2a Guerra.

Todos em posição, começamos a rodar e cortávamos na hora com uma mesa de corte instalada na traseira de uma Quantum, que servia de suíte. Os verdadeiros veteranos de guerra também começaram a se impacientar com o demorado processo de filmagem, o constante ação-corta-de novo. Na cabeça deles filmar era fazer uma vez, repetir quando muito e valeu , o recibo do cachê é em nome de quem.

Um deles, que era presidente da Associção de Veteranos fez questão de mostrar seu descontentamento. Ele foi até o carro, apertou minha mão e disse que estava indo. Lá estava eu, um cara com quase 50 anos a menos de idade, dando ordem para um sujeito que tinha ido para a guerra como 3° Sargento voltar pra posição pra gente poder acabar logo.

Aprendi uma outra lição: jamais convidar os pais para serem figurantes. A gente economiza uns trocados mas o custo-benefício vai pro espaço quando sua mãe, com pena dos velhinhos e das crianças tremendo de frio, resolve te dar um puxão de orelha na frente da raça mais pegadora no pé da técnica.

No inverno e no sul da ilha, o sol baixava rápido e me deixou sem luz para continuar, matei o lado que exigia mais trabalho para refazer em outro dia e deixei o outro pra quando desse (sorte a minha que o cinema é a arte de enganar os outros). O cronograma era e não era apertado, parecia até folgado em certos dias mas era apenas impressão. Estavam previstos 6 dias para gravar tudo e 1 dia extra para qualquer eventualidade.

Com o tempo bom facilmente se cumpriria todas as atividades de cada diária. Adivinha se a semana ia ser assim?

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 11:05:00 PM 0 comentários  

Diário de pré-produção II

Antevéspera do início das filmagens ou gravações, como queiram. No sábado é a hora que a porca torce o rabo e tudo o que aprendi até agora sobre a arte de fazer cinema, ou seja muito pouco, vai contar pra levar esse empreendimento adiante.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 10:35:00 PM 0 comentários