Rádio

Odisséia Uruguaia I

Os eventos descritos nessa saga em 5 capítulos completaram 5 anos em Dezembro. Achei legal compartilhar com vocês.

Como tudo começou

Conhecia apenas o Gaúcho e sua esposa. Eles eram de Jaguarão e tinham uma merceariazinha perto de minha casa no norte da Ilha. Fazia tempo que não tinha notícias deles até que lá em casa alguém ficou sabendo que ela tinha morrido de câncer no pulmão. Tinha ouvido falar de seus filhos mas não os conhecia.

Devido a morte na família, Rosana, acho que a filha do meio, veio do interior do Rio Grande do Sul para dar uma olhada no velho, que estava passando por um período de difícil adaptação com a perda recente. Conheci essa figura, bem extrovertida e maluca, no bom sentido, é claro. Como eu me iniciava nessa coisa de produção audiovisual e não dizia não para nada, surgiu o convite para ser o criador das imagens no telão para uma apresentação da escola de dança que ela e o Joselo (leia-se Rosselo) um uruguaio cabeludo, que tocava violão e era seu namorado, mantinham em Jaguarão.

O espetáculo seria realizado em 15 de dezembro de 2001 numa cidade do Uruguai, chamada Melo (leia-se melo) distante cem quilômetros de Jaguarão, que ficava no final do Rio Grande do Sul. Do lado de cá, o Brasil, passando a ponte sobre o rio Jaguarão ficava a cidade de Rio Branco, Uruguay.

Saímos de Florianópolis em 9 de dezembro, domingo, um dia de atraso em relação aos planos originais. Esses atrasos iriam se constituir numa coisa corriqueira com aquele casal transnacional por todo o período que passei com eles. Junto com a gente ia também Cristiano, um cara que dançava na companhia deles e que eles trouxeram para ajudar no trabalho aqui.

Dividi a direção com ela pelo longo trajeto de mais de 14 horas. Por volta das 11 horas de noite estávamos em Pelotas, a cidade que gozava daquela boa fama que a cerca. Na verdade apenas uma hora de estrada em linha reta nos separava de nosso destino e, cansados e famintos, resolvemos parar para comer numa lanchonete que ela freqüentava na época de estudante universitária. A especialidade da casa era o à la minuta, o bom bife com ovo. Pedimos 2 pratos e a comida demorava.

Em volta da nossa mesa, podemos perceber que o recinto era freqüentado pelas pessoas mais esquisitas. Velhotas feias e mal maquiadas que tinham saído para dançar em algum bailão na noite de domingo e que iam fazer uma boquinha antes de irem embora. Algumas tinham conseguido se dar bem, o que não queria dizer muita coisa.

Tentava evitar que o preconceito pela cidade me dominasse mas foi inevitável deixar de pensar em todas as piadas de veado de Pelotas que escutei. Os dois sujeitos que ficavam no caixa eram e não tinha como negar. Eles ficavam olhando para mim e para o Cristiano que sentava do meu lado. A visão deles estavam desimpedida pois o casal neura tinha saído para ligar para alguém em Jaguarão, avisando que estávamos quase lá.

Chegando em Jaguarão deixamos Cristiano na casa da vó dele e seguimos pela simpática cidadezinha de fronteira até a casa/escola. Encontramos Abelardo no caminho e ele tinha a chave. Estávamos acabados e fui instalado num dos quartinhos da escola, pegando no sono imediatamente.

A cidade, como disse antes, é bem simpática e aprazível, suas casas são grudadas umas às outras e quase sempre sem portões ou grades na frente, com suas portas da frente dando direto para a calçada. Os quintais são todos escondidos. As ruas são de paralelepípedo e bem largas, como que avenidas, separadas por canteiros de árvores plantadas a uma boa distância umas das outras.

Há dois clubes lá: o Jaguarense e o outro que me esqueci o nome no mesmo lado da rua, separados por alguns prédios e o Hotel Sinuelo. Isso tudo de frente para a grande praça com a igreja matriz à esquerda.

Na segunda pela manhã, conheci algumas das bailarinas, que vi apenas na gravação em VHS de outra apresentação no teatro da cidade. Pensei que elas eram mais velhas, a média no entanto era de 13-14 anos, o que me deixou apreensivo já que eram pré-adolescentes demais para o meu gosto. As professoras delas eram as que mais chegavam perto de uma faixa etária que não me deixariam em encrenca. A mais nova tinha 18 anos.

Acompanhei alguns ensaios das meninas, fui apresentado a todas elas e suas professoras, atravessei várias vezes a ponte. Acabei descolando uma ilha de edição para trabalhar nas imagens do telão com um uruguaio que trabalhava em uma loja de fotografia. Ele ainda gravava eventos e fazia as propagandas das lojas locais para a TV por assinatura da cidade para o típico gaúcho de almanaque, dono da loja.

Leia a seguir outras coisas que me aconteceram no período que fiquei entre o extremo sul do Brasil e o Uruguai.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 8:18:00 PM 0 comentários  

Odisséia Uruguaia II

Perrito aplastado

Estar naquela cidadezinha uruguaia me fazia lembrar os anos 70 que eu era muito novo para ter conhecido bem. Anos 70 nem tanto, mas um quê de 1980 e poucos era possível sentir no ar. Podia apenas imaginar como deveria ser o dia-a-dia vagaroso, o longo arrastar das horas ao se viver nesse exato ponto da América do Sul há duas décadas.

Não apenas as cores das roupas e modelos de carros velhos estacionados em ruas largas e por vezes não asfaltadas que remetiam a esse período. A própria cor da cidade era meio granulada como um fotograma de filme antigo 8mm. Era engraçado de ver nas ruas velhinhas e crianças em seu meio de locomoção habitual, mobiletes azuis em sua maioria com as cestinhas para compras no guidon.

Na frente do Centro de Diversiones Musicales de Rio Branco, um boteco de sinuca e música ao vivo aos sábados à noite, onde uma garota escutava sucessos latinos, estávamos os três andando nas ruas calmas e pouco trafegadas no meio da tarde. Do banco detrás do carro pude sentir que tínhamos passado por uma lombada pelo pulo do carro. O detalhe é que a lombada tinha pêlos e começou a gritar de dor.

O carro rodava a baixa velocidade, mesmo assim ter passado com os pneus por cima do pequeno cachorro foi o suficiente para condená-lo, como nos explicou o veterinário, amigo dos pais da Rosana e médico da família, que dirigia o carro, ao ver o animal sangrando pela boca.

Enquanto o animal morria na mesa do consultório após receber uma injeção para acabar com seu sofrimento, voltamos ao local do “crime”. O sentimento de culpa pelo acidente dominou minha amiga e ela chorou não apenas pelo cachorrinho, aproveitou e desabou também pela perda recente que tivera na família.

A mãe da garota era brasileira e disse para não nos preocuparmos, mas que deveríamos providenciar as exéquias do animal. A menina estava chorando em seu quarto, diferentemente do modo apático como reagiu aos apelos do cão de apenas 4 meses alguns minutos atrás.

Voltamos à clínica. O doutor Malfato nos sugeriu que levássemos ao Basurero Municipal para deixarmos o corpo do cachorro já devidamente enrolado em sua mortalha, um grande saco de ração para cavalos.

Para chegarmos ao tal lugar, guiados pelas indicações do veterinário, passamos por uma parte da cidade um pouco mais afastada do centro onde tudo havia ocorrido. Vimos casas pequenas e feias em terrenos minúsculos cercados por arame farpado. Era mais para frente, passando o cementerio, como nos disse uma velha com cara de figurante mexicana.

No fim após circularmos por mais uns cinco minutos sem encontrar o depósito de lixo da cidade, acabamos abandonando o corpinho do cachorro em um terreno que estava sendo coberto com aterro. Assim dentro de uns pneus o cadáver ficou.

Atravessando a ponte na volta para o Brasil nos demos conta de que não sabíamos o nome do animal.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 11:20:00 AM 0 comentários  

Odisséia Uruguaia III

Interlúdio campestre

Desembarquei do ônibus que fazia o percurso Rio Branco-Melo e fiquei no meio do nada, cercado de muito pampa em volta e pouca civilização para me encontrar perdido. Joselo e Rosana demoravam a chegar, sabia que o pai dele tinha terras por ali e pelo combinado eles me buscariam no Km 75. Passei a desconfiar de suas combinações, ainda mais quando eles combinavam com terceiros que ficavam encarregados de me comunicar o combinado.

Na real não estava perdido e mal pago como suspeitara. Como o maldito horário de verão deixava os relógios uruguaios atrasados uma hora em relação à hora oficial do Brasil, eles nem sabiam que eu já estava esperando há uma hora na beira da estrada. Antes do descontrole bater, tinha abordado no auge do desespero um tio de bombacha, com cara de índio que morava em um sítio ali perto. Perguntei ¿hay telefono? e ele disse ¡no!

Como se não bastasse o horário não ter fechado o que mais os atrasou foi o fato de Joselo querer guiar o carro, mesmo sem saber, por uma estrada longa e complicada. Ao ver o carro chegar me alegrei e agradeci a Deus.

A estrada era horrível mesmo, de areia, toda irregular e curva mas o cenário compensava tudo. Aqueles longos campos verdejantes a se perder de vista, com o céu escurecendo e ficando cinza e azul em certas faixas com a luz do sol já se retraindo. Depois de anos aquela beleza agro-pastoril continua bem viva em minha memória.

Era segunda-feira e como sempre os planos eram passarmos o dia lá e voltar de noite para o outro lado da fronteira e preparar o retorno triunfal para outra apresentação no sábado seguinte do espetáculo das meninas e então voltar para SC.

Acabamos ficando lá a noite toda e me arrependi de ter deixado minha mala em Jaguarão com minhas roupas. Restava a esperança de que retornaríamos no mesmo dia, assim comecei a perceber que os dois eram ruins em cumprir os esquemas previamente planejados.

Conheci o velho Pepe, pai de Joselo, um uruguaio de cabelos brancos criado no pampa, fanático pelas novelas brasileiras das 8. Todo dia ele sentava em frente à TV com sua comida e assistia a’O Clone. Uma vez quando as mulheres tinham saído da sala ele se vira em seu sofá e fez um comentário bastante lisonjeiro acerca dos peitos da Giovana Antonneli e todos rimos com o velhinho safado. Tão logo acabava a novela e lá ia ele para seu quarto, escutava uns tangos que tocavam no rádio e devia dormir descansado, para acordar cedo no outro dia.

Conheci também a irmã de Joselo e o marido dela, um contador de histórias com os dentes meio ruins. Esse sujeito se vestia como o gaúcho típico e andava a cavalo e se ocupava com a lida da terra. A irmã de Joselo lembrava pouca coisa o irmão. Ela se ocupava das tarefas domésticas.
Havia dois cães, pastoreiros, eles cuidavam da criação de ovelhas, bois e vacas e cavalos.

Um carneiro de nome Guancho também vivia solto pela área, ele tinha, segundo me contaram, o hábito desagradável de atacar as pessoas. O animal era perigoso quando baixava a cabeça e vinha na direção de sua vítima e eu que acreditei ter feito amizade com ele, mas não fui poupado. O bastardo me atacou também. Deram um jeito nele amarrando-no a uma corda presa na cerca, assim parecia um cão numa coleira.

Por questão de uma noite tinha perdido uma festança regada a caipirinha e mate com música ao vivo do violão do uruguaio e com o Juliandro, primo de Rosana e percussionista que acompanhava Joselo nas apresentações de dança. Morava ali também a tia Éster, uma senhora pequena e simpaticíssima que se preocupava com todos como se fossem os filhos que não teve.

Luz elétrica só do gerador a querosene, por isso de noite a casa ficava escura, iluminada por velas, e pela TV quando estava ligada. O sistema para tomar banho era muito simples, não que eu esperava hidromassagem, só que uma caneca e balde com água fazendo as vezes de chuveiro eram bem menos do que eu gostaria.

Na primeira noite, como achava que íamos embora no outro dia acabei pulando o banho, além do que eu nem tinha outra roupa para trocar. De novo amaldiçoei a minha burrice pela mala que ficou do outro lado do rio, no Brasil.

Logo era noite do outro dia e ainda estávamos ali. E outra noite na companhia agradável daquele pessoal. Me tornei um campesino por excelência, enrolava e fumava meus próprios cigarros de fumo de corda todas as noites. Tocávamos e cantávamos ao ar livre e limpo do campo. Comecei a compreender os poetas do arcadismo.

Fiquei alguns dias com a mesma roupa, de segunda a quinta, quando iríamos a cidade de Melo e ver a gravação da entrevista que o casal binacional iria dar para a emissora local.

Nesse ínterim andei a cavalo, coisa que tinha feito uma vez na vida e tomei banho em uma sanga que estava dentro das terras de Pepe. A água era clara e quente, uma delícia, aproveitei para lavar o couro. Fui com Rosana um tempo depois dos outros. Eles tinham ido para lá a cavalo, na volta nos cederiam o transporte eqüino. Esperei a roupa secar ao sol e retornamos para a casa montados nos quadrúpedes. Mais acostumado com o trotar no lombo do animal eu ia menos tenso. No dia anterior tinha dado uma volta com um cavalo que segundo o contador de lendas, era xucro, e não relaxei muito, aproveitando pouco a experiência.

Eu adorei o lugar, gostaria de ter um refúgio como esse para recorrer quando me sentisse estressado e de saco cheio dos problemas da civilização. Não sei se teria muita paciência com aquela calma por tanto tempo, mas por um mês no verão eu garantiria ficar sossegado e sem me preocupar com o resto do planeta.

Por mais que me sentisse feliz ali, acho que dificilmente abdicaria dos confortos do mundo urbano, entretanto Juliandro estava quase deixando para lá a vida na cidade e se dedicando à vida em local tão bucólico. Ele dizia que estava cansado da vida de artista e que já tinha aprendido os ritos da família e que por ele ficava lá para o resto da vida. Não havia como não concordar mas não era para tanto. Lembre-se que era verão, queria ver se ele enfrentaria o inverno que parecia ser bem rigoroso com tanta galhardia.

Com alguma tristeza por deixar para trás um lugar tão maravilhoso, fomos para a cidade, tia Ester foi conosco. Nos despedimos de todos os que ficaram e imaginei a vida continuando no ritmo próprio que aquele lugar encerrava.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 8:21:00 AM 0 comentários  

Odisséia Uruguaia IV

De como eu fui parar em um inferninho chamado Fechoria´s

Agora que me encontro um tanto quanto ébrio, acho que minha língua, quer dizer meus dedos se soltam. Vou até contar uns lances que me oc, credo que difícil achar as letras assim, vou até contar mais um lance que me ocorreu na minha famosa odisséia urugaia, uruguaia, é assim mesmo? Deve ser.

Bom, depois da apresentação de dança contemporânea das meninas no Teatro Espanha em Melo, acabei cruzando a fronteira de volta para Jaguarão e pensei que ia haver festa lá, mas que nada! As gurias acabaram dormindo na van na hora que durava o trajeto e pude me dar conta da burrada que fiz. Fiquei sabendo depois que um amigo que tinha ficado lá curtiu bem mais a noite uruguaia de sábado com o cara que fez a iluminação do espetáculo e vinha de Montevidéu.

Continuando, passei o resto do sábado em uma festinha meia boca no Jaguarense e o domingo meio na merda, sem muito rango à disposição, sozinho com apenas um canal de televisão disponível, a Rede Globo (sinal onipotente é isso aí) e chuviscos incompreensíveis de uma TV uruguaia.

Na segunda-feira Abelardo, esse só vendo pra crer, uma coisa magra e cabeluda, com um nariz digno do descrito pelo Gogol, um baita bailarino no fim das contas, me dá um troco para pegar o táxi para ir até a magnífica rodoviária de Rio Branco, do outro lado da ponte e tomar ônibus para descer no Km 75 da Carretera para Melo. De lá eu esperaria até que a Rosana e o Joselo fossem me apanhar de carro. Era para ficarmos um dia nas terras do pai dele e voltar em seguida.

Acabamos ficando até quinta à tarde. Só então fomos para a cidade de Melo, a última escala na volta para Jaguarão, para falar com um pessoal da TV local e iríamos embora mais tarde naquela noite mesmo. Estava tarde, devido a um fato que pode ou não ser narrado em outro relato desses ficamos de dormir na casa de Joselo na cidade e seguir viagem no outro dia.

Estávamos eu, Joselo, Rosana e o primo dela, Juliandro, o percussionista que acompanhava o uruguaio, seu nome quase fazia dele quase meu xará. O casal ia dormir cedo mas não sem antes me liberar a chave do carro para dar umas bandas em Melo. Circulamos atrás da casa de um amigo de Joselo e como não encontramos, abastecemos o carro e voltamos para o centro da cidade a procura de um bar para passar o resto da noite.

Fomos até um boteco ali por perto, que ficava numa esquina, desses com as mesas na calçada. Momento cultural à Tarantino: uma coisa bem interessante do Uruguai é que lá a garrafa de cerva tem 1 litro, imagine quatrocentos emê-éles a mais! Perto da nossa mesa estavam alguns uruguaios da cidade que conversavam animadamente. Um deles, conhecido de Juliandro, acabou puxando papo conosco. Conversamos pouco com eles.

Não tínhamos esperança de encontrar companhia feminina naquela noite, havíamos sido rechaçados por umas meninas da cidade quando paramos numa pracinha para pedir informação a respeito da rua da casa de Fred.

Acabamos topando sem querer com Fred e sua esposa, o amigo motoqueiro e maconheiro, por pura coincidência. Andavam de moto e passaram pela esquina, Juliandro acabou fazendo-os parar e tomar um traguinho conosco.

Nossos vizinhos de mesas discutiam música. Eles achavam Renato Russo uma merda, por outro lado Fred e sua mulher achavam o nosso falecido compositor o maior poeta e que eles deviam aprender mais sobre música antes de falar besteira. Quase uma discussão boba vira caso de polícia. Antes de tudo virar uma zona a mulher dele sugeriu que fossemos até a casa deles.
Eles deixaram a moto em casa e me perguntaram se queríamos ir a outro lugar que eles conheciam para tomarmos mais umas cervejas de 1 litro.

Conheci o cachorro deles, um grande pastor capa preta simpático, cujo nome me foge à memória. Esse casal de loucos costuma viajar de moto pelo Brasil inteiro e vi numa foto que me mostraram de uma dessas viagens o cão em cima do tanque de gasolina, feliz da vida com a língua ao vento junto dos donos. Só faltava uma jaqueta de couro e um capacete para ele, daqueles com ponta de ferro como dos alemães da 1a Guerra, para ele ser um Hell´s Angel.

Cruzamos metade da cidade e quando vi estávamos num inferninho chamado Fechoria’s. De fora parecia um boteco bastante normal com mesas de sinuca, com as ocasionais brigas que haveriam de rolar de vez em quando. Mais tarde deu para perceber que era um antro de prostituição. As pistoleiras de lá são bastante similares com as daqui. Uma delas se oferecia para um cliente no balcão e não era nem um pouco bonita. Como já era bem tarde da madrugada o cara não quis o programa e nossa hora estava chegando.

Ficamos lá um bom tempo e confraternizamos com alguns dos freqüentadores que nos eram apresentados pelo Fred. Eu, que mesmo sabendo falar o idioma, raramente me comunicava em espanhol, me fazia fluente na língua deles. Uma coisa que percebi de diferença dos uruguaios para os argentinos é que os últimos não fazem o menor esforço para entender o português e quando entendem ainda assim se fazem de desentendidos. Como? perdon? e a fatal: no compreendo. Já os uruguaios, pelo menos os que conheci, se não falam português pelo menos entendem o que se diz para eles na nossa língua.

Eu estava chumbado, cansado e precisava dirigir de volta, sem falar que estava longe de casa, sem carteira de motorista e nem conhecia a cidade direito. Não vi um policial o dia inteiro e não gostaria de conhecer a força da lei de lá. De alguma forma, encontrei o caminho da casa onde estávamos hospedados.

Juliandro ficou no quarto com a tia Ester, jurando que estava sendo esperto, pois encontrou uma cama prontinha para ele, mas eu dei a sorte grande: um quarto particular e uma cama de casal só para mim. Dormi até a metade da tarde da sexta.

As tias, a outra era a mãe de Joselo, eram as mais queridas e nos ofereceram comida assim que acordamos. Que vidão! No meu quarto vi aquela emissora que em Jaguarão eram apenas chuviscos e pude me divertir bastante com os noticiários que relatavam os cacerolazos e a queda do Fernando deles e algumas novelas locais, que não perdiam de jeito nenhum para as melhores mexicanas do SBT. Acho até que vi um capítulo inteiro de Carrossel Dos, pena que a Thalia não fazia parte do elenco.

Nem acreditei que voltávamos para Jaguarão naquele dia mesmo. Na viagem de volta colocamos o casal a par de nossas aventuras na divertidíssima noite de Melo. Nada mal para uma balada de quinta-feira num país vizinho.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 11:13:00 AM 0 comentários  

Odisséia Uruguaia Parte Final

Feliz navidad

Tínhamos voltado de Melo na sexta e na segunda, véspera de natal, na metade do caminho para Pelotas, eu e Rosana decidimos parar o carro no acostamento. Decidiríamos se continuávamos até Porto Alegre e chegaríamos a tempo da ceia de natal numa casa de uma amiga ou prima. Ou se retornávamos para Jaguarão e seguiríamos viagem no dia seguinte, adiando pela milionésima vez a volta para casa.

Adianto desde já que passei o natal em Jaguarão. O que aconteceu? Quando finalmente estava tudo pronto para Florianópolis e que dessa vez não passava, depois de uma semana extra na cidade depois da segunda apresentação das gurias, Joselo bate o pé, decide que vai ficar e ir para Melo no outro dia, sozinho. E eu, no meio dessa crise conjugal de graves proporções.

Sem chorar mas visivelmente infeliz Rosana resolve pegar a estrada de qualquer forma, já era 11 da manhã do dia 24. Paramos em um restaurante para mandar para dentro um prato de bife com ovo antes de seguir viagem. Senti que ela não queria ir deixando um assunto pendente. Ainda que não agüentasse mais tanto atraso, fiquei com pena dela nessa situação.

Corta de volta para o acostamento: olhei para ela e ela me olhou e voltamos para Jaguarão. Ela falou que ia improvisar alguma ceia natalina e eu imaginando o pessoal lá em casa, me esperando depois do milésimo alarme falso de meu regresso.

Esse natal em família para mim seria uma coisa bem importante. Eu havia passado um mês fora de casa, com raiva do mundo e quando tinha voltado nem tive tempo direito de reforçar minhas relações com meus pais pois havia embarcado nessa legítima odisséia no começo de dezembro com previsão de duração de uma semana e que já entrava em sua terceira semana.

A tal ceia natalina foi um pedaço de paleta de ovelha que ela descolou antes do armazém fechar, lá as padarias e açougues fecham as oito da noite. Não me recordo de ter algum dia experimentado carne de ovelha e fiquei imaginando seu sabor. Vi pouca carne em volta daqueles ossos compridos e curvos.

Os dois mal se falaram quando se reencontraram e todo o pessoal da cidade estranhou a nossa volta. Devem ter compreendido que passar o natal na estrada devia ser uma bosta e que acertamos em retornar.

Por volta das nove a ovelha foi posta no forno para assar e eu em cima, acompanhando e torcendo para que ela ficasse pronta logo. O bife do almoço, a última refeição do dia, não estava no meu organismo há horas.

Um sujeito chamado Jardel, primo do tipo maluco da Rosana, apareceu e foi convidado a se juntar à mesa naquela noite. Ele fumava um mata-rato de doer os pulmões e bebia por profissão, era pescador e me contou alguns causos do mar que ele e amigos enfrentaram. Ao saber que eu morava em Santa Catarina puxou do bolso uma história que se passou com ele no litoral norte do estado.

E nada da ovelinha sequer ficar dourada.

Não satisfeitos em fazer o natal do primo, o casal ainda teve tempo de ir providenciar um Papai Noel para um casal de amigos uruguaios que tinham dois filhos pequenos e que iriam receber o presente das mãos do bom velhinho em pessoa, me deixando com Jardel que me contou vários podres da prima. Não esquenta, R., não vou divulgar o que sei.

Detalhe: quando o Brasil adota o horário de verão, fica-se uma hora adiantado em relação ao horário oficial do país vizinho. Portanto eles foram chegar com o homem vestido de vermelho e gorro na cabeça por volta da 1 da manhã. Eu já tinha me impacientado quando os vi passar na esquina da outra quadra para entrar na casa dos amigos. Era com certeza o pior natal de minha vida.

Deixei Jardel tomando conta da ovelha no forno e fui até a casa dos uruguaios, com a maior cara de fome. Chegando lá todos extremamente simpáticos, desde os pais do cara até os pais da mulher, me mostraram o caminho das cervejas e as cestas com frutas e queijos e presuntos cortados em cubinhos e espetados em palitinhos. Meu natal estava salvo, por ora.

Conversei um bocado com o pai de Roce, que era da Galícia. Ele me explicou que vários uruguaios eram descendentes de galegos e me contou piadas dessa parte da Espanha, que eram tratados calorosamente pelos uruguaios da mesma forma como vemos os lusitanos do outro lado do Atlântico.

Fizemos um intercâmbio de piadas. Eu falava português e espanhol e todos me elogiavam, eu creditava isso à cerveja. Rosana e Jocelo voltaram para o primo e a ovelha que a essa hora já devia ter passado do ponto e me deixaram lá depois da entrega dos presentes.

Gostaria de poder ver a minha própria cara ao testemunhar aquele ritual de entrega de presentes com direito a performance do velho Noel em pessoa. Todos ganhavam presente menos eu, é óbvio. Devia haver alguns me esperando se algum dia voltasse para Florianópolis. Faltava menos de uma semana para a virada do ano e já imaginava meu Reveillon em Jaguarão.

Comi mais um pouco e o sujeito que fazia as vezes de Papai Noel ficou para comer conosco e beber na sala. Nessa hora a barba era afastada e voltava para o lugar caso algum fedelho aparecesse por lá. Ele bem que tentou contar histórias deprimentes para alegrar nosso natal mas felizmente ele teve que se ausentar.

Fiquei para a sobremesa e fui-me embora perto das 2 e meia da madrugada, cumprimentando todos e agradecendo a acolhida calorosa, meu estômago mais agradecido ainda. Por incrível que pareça ainda dava tempo de encontrar meus conhecidos da cidade e pegar o começo da festa de natal no clube Jaguarense, festa que durou até seis da manhã quando começaram a abrir as janelas do salão que costuma ser menor em outras nas festas em fins de semana comuns.

No almoço do outro dia é que fui sentir o gosto daquele pedaço de ovelha, e ligar para casa para dizer que no outro dia estávamos voltando... No dia 27 finalmente fomos embora de Jaguarão. Nunca mais pus os pés lá.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 4:27:00 PM 0 comentários  

Polegar para cima!!!!

Assunto nunca falta, falta vontade e tempo. É bom ler outros blogs para descobrir outros blogs para descobrir outros blogs. Mais legal ainda quando o cara se depara com um bacana com tiras de humor engraçado. Não que que os que costumo acompanhar sejam decepcionantes (alguns sim) e atualizados a cada ano bissexto.

Foi o que aconteceu. Li no Malvados. Conferi a dica e rrrecomeindo: http://blogdolafa.blogspot.com/

De terceira mão mas é de coração.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 4:51:00 PM 0 comentários  

Ano novo, vida nova!

Que blogueiro relapso que sou, não entro aqui desde o ano passado.

A todos um 2007 de cinema.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 6:45:00 PM 0 comentários