Rádio

"Não creio que este filme tenha bilheteria.... "

Assisti de uma posição privilegiada a sessão de linchamento promovida pela crítica especializada em cima do 2° longa catarinense da história. Num parentêses histórico o primeiro foi O Preço de uma Ilusão, de 1957, do qual restam intactos apenas 10 minutos, se tanto.

O frenesi causado pela indicação de "Procuradas" para o Festival de Gramado foi para SC o equivalente a comoção nacional por indicação de um filme brasileiro para o Oscar. Rolou aquele clima de final de Copa mas como era de se esperar, a película não ganhou porra nenhuma.

Quer dizer conquistou a unanimidade entre a crítica, que não poupou impropérios e desancou a produção. Um crítico do JB se manifestou da seguinte forma: "... o filme é mambembe até o osso". Sou suspeito para falar porque, além de torcer para que a indústria audiovisual barriga verde cresça, participei ativamente da feitura do filme. Ativamente é exagero, participei do elenco de apoio ou em bom português: fui figurante, numa cena que mal dá para me ver direito.

Por isso relutei em me expressar sobre a matéria, a ligação afetiva não me permitiria a serenidade para julgar o caso com o distanciamento necessário. Concordo, o roteiro é fraquíssimo e a metalinguagem naufragou fragorosamente, as cenas de nudez são apelativas e totalmente gratuitas (se bem que o desfile de bundas pelo vidro da piscina foi um achado, independente da inutilidade para a eficiência dramática da narrativa), a interpretação dos atores e atrizes está qualquer nota, entre outros predicados pouco lisonjeiros para a dupla de diretores.

É meio pensar pequeno, o que abomino e sempre condenei, mas para um filme que estava condenado e sem dinheiro para fazer o transfer para pelica, o que importa é que ele chegou a ver a luz do dia e passará nas telas do circuito comercial, de preferência provando que o vaticínio e título desse washington post do Rubens, O Ewald Filho, estão errados.

Fiquem frios!! Se meu talento não for importado para outro estado, prometo fazer o possível para representar melhor SC em festivais de âmbito nacional. Tenho 2 roteiros de longas prontos, sendo que um está em pré pré-produção.

Assim seja!!!!!!!

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 11:09:00 PM 0 comentários  

Antes tarde...

Estive tão ocupado nos últimos meses com minhas atividades audiovisuais que deixei esse blogue em segundo plano, para não dizer último mesmo, que nem deu tempo de postar na época da confusão causada pelo aumento das passagens do latão em Floripa minhas mui argutas e imparciais considerações acerca do palpitante tema que estarão incluídas no meu documentário "Um passinho a frente fazendo favor"

Aí segue então com um pouco de atraso meu relato:

Comecei meio tarde meu documentário. As manifestações contra o aumento das passagens tinha começado na segunda-feira, 28 de junho, e eu só levei a sério depois da pancadaria que ocorreu na quarta à noite no terminal do centro. Na quinta-feira comecei a captar imagens e sons dos protestos discretamente, não sabia se iam me confundir com policial à paisana levantando informações sobre aquele bando de gente. Apenas o cinegrafista oficial do movimento se aproximou e pediu meu contato para trocarmos figurinhas mais tarde. Me falaram que ele tem gravado minutos suculentos com a pancadaria patrocinada pela PM.

Pensei que na sexta ia apanhar da polícia junto com os manifestantes e aproveitar para registrar o tumulto debaixo de nuvens de gás lacrimogêneo. A sensação de ser atingido com bombas de efeito moral não é agradável e já tive o desprazer de ser submetido a esse tratamento em outra oportunidade. A sensação de abrasão da garganta e vias aéreas bem como a irritação nos olhos leva um bom tempo para passar.

A expectativa para um novo confronto era grande. A tropa de choque estava na rua e até a cavalaria tinha sido convocada. Não seria uma má idéia os protestantes terem por perto alguns mastins napolitanos para mastigar as pernas dos cavalos, tática de combate empregada acho eu pelos romanos para invalidar a ação da tropa montada. O cão morde a perna do cavalo, derrubando seu cavaleiro e o linchamento começa. Mas nada aconteceu. Do terminal todos rumaram até a ponte e interromperam o acesso ao continente por uns vinte minutos. A merda de morar numa ilha é isso. Sem ponte, só sobra remar até o continente.

O fim de semana foi calmo porque manifestante também é filho de Deus, mas na segunda-feira seguinte tudo de novo: grupos de estudantes e simpatizantes bloquearam a entrada do terminal do centro. Depois marcharam até a sede da prefeitura. Lá se seguiram mais discursos e se entoaram canções para dona Ângela, nada lisonjeiras como era de se esperar. Há que se destacar a disposição que esse pessoal tem para andar tanto. Alguns vão desenvolver resistência suficiente para não depender mais de ônibus. Se não conseguirem reduzir o preço da tarifa pelo menos a movimentação vai ter servido para alguma coisa.

Minha abordagem para esse documentário seria total distanciamento, um olhar totalmente imparcial sobre a situação bem de cima do muro. Não queria entrevistar nem mandatários nem os líderes dos protestos. Minha meta era ser odiado e incompreendido tanto pelo establishment como pelos manifestantes. Aquela coisa: é desfavorável demais com o pessoal engajado na causa e indepedente demais segundo as autoridades. Vamos ver o que consigo disso quando o conflito finalmente cessar.

Gravei depoimentos de uma garota vítima da violência policial, seu antebraço esquerdo e joelho direito, que tinha sido operado dias antes, apresentavam aquela cor característica de hematoma apagando. Notei um toque de orgulho da rebeldia e contestação juvenil mal disfarçado ao ostentar suas feridas de batalha para as minhas lentes. Não dou nem 5 anos para ela estar bem posicionada no mercado de trabalho em um cargo invejável, sendo uma megera com os subordinados.

Posso estar sendo injusto com ela e os demais. Depois de terem me dito que um líder do grêmio estudantil do meu tempo de Escola Técnica, praticamente sócio-fundador do PSTU, em menos de uma década tinha ingressado no PSDB Jovem e apoiado a reeleição do FHCê, qualquer coisa pode acontecer.

Flagrei também o instante em que um sujeito se aproveita de um pinguço caído, toma um gole de sua garrafa de cachaça e é reprovado por circunstantes aos gritos de “vai comprar a tua”. Um exemplo terno de cidadania e solidariedade com os menos favorecidos que deveria se propagar pelo ar com uma freqüência maior.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 10:56:00 AM 0 comentários  

A reabertura do TAC

Tinha recebido um convite ultrapersonalíssimo, eu e mais uns 50 endereços de email, a maior parte metidos com arte, principalmente cinema como eu, para prestigiar a cerimônia de reabertura do TAC, o venerando e secular Teatro Álvaro de Carvalho.

O TAC é um teatro velho de Florianópolis onde eu assistia espetáculos produzidos pelo antológico Valdir Dutra, que ainda encena clássicos dos contos da carochinha. Mais de uma vez vi o lobo, o mesmo de Pedro e o Lobo, Chapeuzinho Vermelho e os 3 Porquinhos, ser morto pelo caçador. Eu torcia pelo lobo e ele sempre perdia, numa repetição ad infinitum do bem triunfando sobre o mal.

O teatro estava fechado para reformas desde dezembro de 99. A última vez que tinha ido lá foi pelos idos de 97 para ver a banda de um amigo meu tocar com um convidado ilustríssimo, o ser pansexual chamado Sergei, aquele que Janis comeu na sua visita pelo Brasil na loucura generalizada que foi a década de 60. Nem me recordava que o lugar era tão pequeno.

Quando cheguei na frente do TAC procurei alguém conhecido. Encontrei dois grupos que conhecia bem. Um era o Zeca e sua fiel escudeira Maria Emilia, pobres cineastas como eu. A Maria Emilia nunca relaxa, muito séria, o que não tem nada de errado mas ela sempre quer levar as coisas ao pé da letra. Por isso preferi me unir ao Ângelo Sganzerla, cineasta também, e sua esposa e mais um outro ator-médico, que participou de um curta que fiz milênios atrás.

Entramos, o lugar não estava cheio, e em seguida o pianista escalado para tocar começou com uma bobajada romântica, provavelmente Rachthmaninoff. Odeio os românticos, o único que escapa da turma é o Beethoven.Tchaikovsky é outro que apela e tem meu mais sincero repúdio.

Uma velharada responsa marcou presença, principalmente um dos atores mais velhos de SC, que deve ter participado da peça inaugural em 1875. O que eu queria era poder dar um tapa na careca do governador e fazê-lo tirar a minha pele da pindaíba. A ocasião era festiva e se eu tivesse de terno e gravata talvez me atrevesse.

3 candidatos a prefeito de Florianópolis estavam lá. Um deles por ser do partido do governador ocupou a mesa de honra. Até o picareta que tinha sido prefeito da cidade vizinha e que jurava contar com grandes chances de vitória, chegando um pouco atrasado. Às vezes esses tipos forçam a barra.

O último da mesa a falar era o excelentíssimo. Já ouvi cada gafe atribuída a ele que tinha que estar lá para testemunhar qual seria a mais nova no anedotário. Ele não fez feio até. Apelou como sempre, se atrapalhou com as palavras e provou que adora Florianópolis. Podemos assim respirar aliviados. Não é verdade o boato de que ele queria passar um projeto renomeando a nossa bela cidade para Joinville-sur-Mer.

As autoridades deviam estar com fome, foram breves e na seqüência o mestre de cerimônias, Marcelo Perna, um ator amigo meu, reapresentou o pianista e nos ilustrava dizendo qual era o autor e a peça que ele executaria. O pianista recomeçou com Chopin, passou por Villa-Lobos, chegando até um compositor erudito catarinense e terminando com um troço vibrante do Lourenço Fernandes.

Pensei que o governador tinha se escapado à francesa mas ele estava ainda na platéia conferindo a performance do pianista. Eu sabia que com isso o Ângelo aproveitaria para fazer a sua jogada.
Quando LH, de saída, passou perto da gente recebendo apertos de mão de todos, Ângelo aproveita um abraço e recomenda no ouvido do governador que este leia umas declarações suas a respeito da importância do cinema catarinense.

Se eu aproveitei a proximidade e sapequei um pescotapa no governador? Sorry, me limitei a apertar a mão do homem e fui embora. Se a carreira do Sganzerla como realizador não vingasse, ele bem que podia se aventurar pela política. Diferente de mim tem todo o jeito para a coisa.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 1:10:00 PM 0 comentários  

Happy Birthday Mr. President

Norma Jean, aka Marilyn Monroe, era linda de morrer e morreu linda, apesar da overdose providenciada pela máfia querendo intimidar os Kennedy, por uma suposta traição a um pacto de não-agressão mútuo. Eles próprios também deitaram, vítimas dos mesmos mafiosos.

Inaugurou a Playboy americana, foi amante de tipos foderosos e se casou milhares de vezes com caras tão diversos entre si. Desde um jogador do esporte mais chato do mundo, o beisebol, até um intelectual brocha. Parece que não foi feliz com nenhum.

No seu melhor filme, talvez um dos melhores do mundo segundo as listas de revistas especializadas, numa das falas ela admitia que não era brilhante. Nem precisava ser.

Vai-se a mulher, fica o mito. Essa e outras platitudes se aplicam bem ao seu caso. Nem me lembro porque comecei a escrever isso. Talvez sua voz sensual cantando “My heart belongs to daddy” tenha me enfeitiçado e me inspirado a homenageá-la nesse espaço ao invés de no banheiro.

Crianças, aconselho correrem atrás da filmografia dela, apesar de tudo o que se disse, MM era uma boa atriz.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 4:14:00 PM 0 comentários  

Resenha musical


Nas próximas linhas tecerei algumas considerações pertinentes à obra “Terra dos Homens Bravos”, de A. Fortkamp. Percebe-se que estamos na presença de algo poderoso quando já se depara com a magnífica abertura, uma suíte em 3 movimentos intitulada Bravery, digna de um Albinoni, melhor do que a de um Vivaldi em sua fase mais profícua.

O tema é forte e contundente. Os arranjos são muito bem elaborados e a escolha acertada dos instrumentos honra a tradição da escola clássica européia. Tudo isso serve como um preâmbulo, de modo a preparar os espíritos para o que vem a seguir, ao ser apresentada a saga engendrada pelo compositor em 7 excelentes pérolas do mais verdadeiro metal melódico.

A intro da faixa “Bravemen Land”, com os vocais e o instrumental, nos remete a essa distante terra e logo entram as guitarras poderosas acompanhadas por um bumbo duplo que durante a maior parte do CD serão nossos companheiros de viagem. Quem há de conseguir permanecer calado e deixar de cantar em uníssono o refrão com o coro de vozes de guerreiros ancestrais? In the battle, in the fighting...

“Politicians of the World” conta com a participação da soprano Claudia Todorov e do barítono Giovane Pacheco. Nessa canção Fortkamp destila todo seu feeling em um lento e vigoroso solo, colocando-se genialmente atrás do tempo da música. A mensagem que ela passa permanece atual desde tempos imemoriais até os dias de hoje, políticos usam a guerra para benefício próprio e só a eles compete por um fim a ela.

Baseado em um sonho Fortkamp compõe “Follow the Lights”, outro exemplo de como riffs bem concebidos e precisamente executados fazem toda a diferença para o estilo, e passa aos ouvintes essa atmosfera onírica com o belo coro do refrão, em mais uma participação do duo Todorov-Pacheco.

Como um aplicado estudante de canto lírico Fortkamp grava nos registros agudos de sua voz a música seguinte, “Believe in Yourself”, acompanhado de mais guitarras robustas e bateria bem compassada, onde conclama a todos que acreditem em si mesmos para a consecução de seus objetivos. A convenção musical antes do final da música, onde as guitarras se dobram e se complementam, é mais uma entre as várias partes interessantes do CD.

A influência das obras sacras barrocas de Bach é presumível e mais vocais agudos aliados a belos solos de guitarra se fazem presentes em “The Glorious Salvation”, que tem direito até a um bonhamniano solo de bateria. “Eclipse” é um convite aos sentidos, permita-se fechar os olhos e ser carregado pelo belo tema. Um exemplo de como um excelente músico é aquele que almeja e consegue, em uma mesma música, equilibrar partes calmas e lentas com linhas mais rápidas e de mais pegada. Música instrumental como nunca se ouviu do lado de cá do Atlântico.

O apaixonante trabalho termina com uma peça extremamente sóbria para piano, cello e voz intitulada “Tears of Your Cry”. Dessa vez as guitarras são postos de lado para dar lugar a um arranjo que tem por objetivo valorizar e realçar ainda mais a faceta interpretativa de Alexandre Fortkamp.

O grande achado do trabalho de Fortkamp é ressaltar por meio da música como a essência do homem atual não é tão divergente da essência daqueles que batalharam em eras passadas, talvez haja sutis diferenças devido à escalada tecnológica e como isso influi o ser humano ao enfrentar os mesmos questionamentos desde tempos remotos da história da humanidade.

Em linhas gerais, pode-se resumir o conteúdo de minha mensagem com o seguinte comentário: O projeto é impecável, muito bem executado iniciando pela parte gráfica, vide a bela obra da capa e o caprichado encarte, passando pelo principal, a produção e a música em si, que só pode ser descrita como inspiradíssima, sem ser verborrágica, com linhas melódicas ricas e intrincadas, porém melífluas, com riffs encorpados, mas nada truculentos, e acima disso tudo vocais cristalinos muito bem colocados.

Faço votos de felicidades para Fortkamp e a todos que incentivam o nosso bravo músico e desejo muito sucesso na missão de desbravamento de novos caminhos musicais e conquista de novas terras.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 8:54:00 AM 0 comentários  

Isso que é modéstia

Bom, já mostrei meu currico para vocês. Agora apresento algumas das várias resenhas espalhadas pelo jornalismo brasileiro e mundial acerca de minhas obras cinematográficas:

Curta Ninguém é perfeito é bom demais, meu rei

Por Ismail Natividade.

Vitória da Conquista - Depois de tanta espera surge o futuro dono do cetro de melhor cineasta brasileiro do mundo. Vem de SC, lugar onde não existe cinema despretensioso, fora as raras exceções: Baierstorfss e Conspiração Trash. Ninguém é perfeito tem uma fotografia excelente, direção segura e sofisticada, corpos femininos nus, roteiro engraçadinho com final ambíguo embalado por uma trilha sonora massa (QOTSA, Bonde do Tigrão remix DJ Marky, trechos dos diálogos e o tema do desenho do Snoopy). O curta conta a história de um cara meio nerdóide que cruza o caminho de uma prostituta que tem um pequeno segredo. Veja e descubra o segredo. Certamente os melhores 10 minutos de sua vida. Nas palavras do diretor, que também produziu e escreveu o roteiro: "é, em essência, uma comédia romântica, menino encontra menina, menina tem um segredo, menino tenta descobrir o que é, não necessariamente nessa ordem." Finalmente a sacanagem, tratada aqui com bom gosto, volta às telas.

Extraída da Folha de Coqueiro da Bahia (25/01/03)



Reencarnação, curto como meu salário mas não dá para ficar sem

Nestor Xavier (crítico de cinema)

Rapidinho, ótimo e metafísico, esses sãos os adjetivos que melhor descrevem o curta de L.A. Enganatório mas a platéia perdoa. A premissa é simples, trivial eu diria: uma sala de espera de embarque, 3 pessoas sentadas em cadeiras, vozes em off. Um plano-seqüência com poucos inserts e a história está contada. O talento do realizador é inegável assim como sua polivalência. L. escreveu o roteiro, fez a fotografia, e (ufa!!!) ainda encontrou tempo para atuar. Imagine o que ele fará como mais tempo em um longa.

Extraída do Suplemento Dominical do Correio de Nova Trento (18/05/2003)

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 7:33:00 PM 0 comentários