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A virtude da persistência

Já comentei com vocês sobre esse filme que estou preparando? Acho que não. É um roteiro meu adaptado de uma peça sobre aborto. Vou precisar de um milhão para fazer, então deixa eu ir me despedindo de todos e começar a plantação.

Piada infame a parte, o fato é que para o cara ser cineasta (na falta de uma palavra melhor vai essa mesmo) é necessário muita paciência. Paciência para aprovar o projeto nas leis de incentivo, paciência para convencer os investidores de que vale a pena dar grana para o filme ser feito, isso antes de ter rodado uma única cena.

Depois tem que ter paciência para controlar os chiliques dos grandões do elenco, paciência é a palavra. Uma dica do Spielberg para iniciantes é usar sapatos e/ou tênis confortáveis e outra do Nelson Pereira dos Santos é arranjar uma cadeira, porque tudo vai demorar. Duas muito válidas por sinal, melhor do que perguntar qual lente usar para a cena de nudez da gostosa da atriz principal.

Sabe aquelas contagens regressivas para grandes eventos? Tipo o relojão da Globo para os 500 anos do Brasil. Estimo que em 90 dias tudo esteja em ordem para a partir dessa data querida, estar autorizado a mendi, quer dizer captar recursos para a produção. Como sou esse poço de otimismo, às vezes dá vontade de largar tudo e fazer um concurso púbico, púbico mesmo, como em cinema pornô.

Tudo isso para falar de sonho, cinema e de um filme em particular. Que me anima, que além do meu pai não me deixa desistir do sonho de fazer esse filme como tem que ser feito. Fome Animal (Brain Dead), primeiro filme de Peter Jackson (Sr. dos Anéis). Feito com 3 milhões, uma ninharia até para os padrões baixo orçamento, num pequeno país chamado Nova Zelândia, não exatamente um celeiro de diretores mundialmente aclamados, num gênero restrito (gore/splatter) e com milhares de litros de porco utilizados nas cenas mais sanguinolentas que o cinema ocidental já viu.

Apesar do tema (mortos-vivos comendo a carne dos vivos) e de ter uma das mocinhas mais feias do mundo, não que a beleza da protagonista fosse quesito avaliado pelo júri, o filme foi sucesso de crítica e de público, ganhando prêmios em 92 num dos festivais mais importantes do cinema fantástico, o de Alvoriaz, na Espanha.

A partir daí a carreira de seu diretor foi num crescendo, eles fez umas porcarias pelo caminho, Almas Gêmeas, com Kate Winslet (ainda na Nova Zelândia) e Espíritos, seu primeiro filme americano, com Michael J. Fiofox. Sua grande sacada foi transformar em sucesso cinematográfico a saga com cara de RPG O Senhor dos Anéis. Não em um filme mas em três, cada um com 3 horas de duração. O que abriu caminho para que fizesse mais tarde uma refilmagem de King Kong com base no original de 1933.

Claro que não foi um duende verde que disse: "Vá até o final do arco-íris e ache o baú recheado de moedas de ouro no valor de milhões de doláres" e ele obedeceu e o resto é história. Todo seu sucesso foi resultado da paciência, persistência, um bom agente e acima de tudo de uma visão criativa fodona. Se não foram essas as razões então deve ter sido o duende.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 1:35:00 AM  

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