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Odisséia Uruguaia I

Os eventos descritos nessa saga em 5 capítulos completaram 5 anos em Dezembro. Achei legal compartilhar com vocês.

Como tudo começou

Conhecia apenas o Gaúcho e sua esposa. Eles eram de Jaguarão e tinham uma merceariazinha perto de minha casa no norte da Ilha. Fazia tempo que não tinha notícias deles até que lá em casa alguém ficou sabendo que ela tinha morrido de câncer no pulmão. Tinha ouvido falar de seus filhos mas não os conhecia.

Devido a morte na família, Rosana, acho que a filha do meio, veio do interior do Rio Grande do Sul para dar uma olhada no velho, que estava passando por um período de difícil adaptação com a perda recente. Conheci essa figura, bem extrovertida e maluca, no bom sentido, é claro. Como eu me iniciava nessa coisa de produção audiovisual e não dizia não para nada, surgiu o convite para ser o criador das imagens no telão para uma apresentação da escola de dança que ela e o Joselo (leia-se Rosselo) um uruguaio cabeludo, que tocava violão e era seu namorado, mantinham em Jaguarão.

O espetáculo seria realizado em 15 de dezembro de 2001 numa cidade do Uruguai, chamada Melo (leia-se melo) distante cem quilômetros de Jaguarão, que ficava no final do Rio Grande do Sul. Do lado de cá, o Brasil, passando a ponte sobre o rio Jaguarão ficava a cidade de Rio Branco, Uruguay.

Saímos de Florianópolis em 9 de dezembro, domingo, um dia de atraso em relação aos planos originais. Esses atrasos iriam se constituir numa coisa corriqueira com aquele casal transnacional por todo o período que passei com eles. Junto com a gente ia também Cristiano, um cara que dançava na companhia deles e que eles trouxeram para ajudar no trabalho aqui.

Dividi a direção com ela pelo longo trajeto de mais de 14 horas. Por volta das 11 horas de noite estávamos em Pelotas, a cidade que gozava daquela boa fama que a cerca. Na verdade apenas uma hora de estrada em linha reta nos separava de nosso destino e, cansados e famintos, resolvemos parar para comer numa lanchonete que ela freqüentava na época de estudante universitária. A especialidade da casa era o à la minuta, o bom bife com ovo. Pedimos 2 pratos e a comida demorava.

Em volta da nossa mesa, podemos perceber que o recinto era freqüentado pelas pessoas mais esquisitas. Velhotas feias e mal maquiadas que tinham saído para dançar em algum bailão na noite de domingo e que iam fazer uma boquinha antes de irem embora. Algumas tinham conseguido se dar bem, o que não queria dizer muita coisa.

Tentava evitar que o preconceito pela cidade me dominasse mas foi inevitável deixar de pensar em todas as piadas de veado de Pelotas que escutei. Os dois sujeitos que ficavam no caixa eram e não tinha como negar. Eles ficavam olhando para mim e para o Cristiano que sentava do meu lado. A visão deles estavam desimpedida pois o casal neura tinha saído para ligar para alguém em Jaguarão, avisando que estávamos quase lá.

Chegando em Jaguarão deixamos Cristiano na casa da vó dele e seguimos pela simpática cidadezinha de fronteira até a casa/escola. Encontramos Abelardo no caminho e ele tinha a chave. Estávamos acabados e fui instalado num dos quartinhos da escola, pegando no sono imediatamente.

A cidade, como disse antes, é bem simpática e aprazível, suas casas são grudadas umas às outras e quase sempre sem portões ou grades na frente, com suas portas da frente dando direto para a calçada. Os quintais são todos escondidos. As ruas são de paralelepípedo e bem largas, como que avenidas, separadas por canteiros de árvores plantadas a uma boa distância umas das outras.

Há dois clubes lá: o Jaguarense e o outro que me esqueci o nome no mesmo lado da rua, separados por alguns prédios e o Hotel Sinuelo. Isso tudo de frente para a grande praça com a igreja matriz à esquerda.

Na segunda pela manhã, conheci algumas das bailarinas, que vi apenas na gravação em VHS de outra apresentação no teatro da cidade. Pensei que elas eram mais velhas, a média no entanto era de 13-14 anos, o que me deixou apreensivo já que eram pré-adolescentes demais para o meu gosto. As professoras delas eram as que mais chegavam perto de uma faixa etária que não me deixariam em encrenca. A mais nova tinha 18 anos.

Acompanhei alguns ensaios das meninas, fui apresentado a todas elas e suas professoras, atravessei várias vezes a ponte. Acabei descolando uma ilha de edição para trabalhar nas imagens do telão com um uruguaio que trabalhava em uma loja de fotografia. Ele ainda gravava eventos e fazia as propagandas das lojas locais para a TV por assinatura da cidade para o típico gaúcho de almanaque, dono da loja.

Leia a seguir outras coisas que me aconteceram no período que fiquei entre o extremo sul do Brasil e o Uruguai.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 8:18:00 PM  

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