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Bonde das letras

A essa hora a polêmica envolvendo certos escritores selecionados a dedo, uma editora, renúncia fiscal e uma idéia genial já está caduca mas mesmo assim vou dar minha opinião.

Homônimo do filme de Wong Kar-Wai, o famoso projeto "Amores Expressos", vulgo Bonde das Letras, é uma idéia a princípio muito louvável: levar escritores novos ou seminovos para dar um rolê por várias cidades famosas do mundo que não sejam no Brasil e voltar para casa com um livro que a Cia das Letras publicará sobre amor. Que romântico!

Até aí tudo bem. Acontece que isso vai acontecer às expensas do seu, do meu, do nosso suado dinheirinho. E com um processo de escolha dos nomes mais contestado que a escalação do Valdir Peres para o gol da seleção de 82. Parece que foram escolhidos apenas 16 camaradas da patota do escritor João Paulo Cuenca, que nessa brincadeira vai para Tóquio, e do produtor Rodrigo Teixeira (O Cheiro do Ralo). Teve amigo que ficou de fora, o que não garante grandes coisas como critério de isenção.

Além da edição das obras o orçamento de 1, 2 milhão de reais, captados via renúncia fiscal (Lei Rounet), também serve para a produção de documentários sobre o périplo de cada autor atrás da inspiração em terras estrangeiras e conseqüentes compras de direito autoral de adaptação para cinema dos livros resultantes desse verdadeiro trem da alegria.

É muita grana! Quantos livros não poderiam ser adquiridos para as bibliotecas públicas com esse montante? Teixeira anunciou que teria dinheiro para tocar o bonde mesmo que não arrecade pela Rouanet. Nada mais justo, a lógica de mercado que deve prevalecer. Nunca entendi esse tipo de capitalismo assistido pelo governo que a gente tanto cansa de ver no nosso cinema, música, teatro, artesanato.

Escrito, produzido e dirigido porLeandróide às 4:34:00 PM  

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